III




entorpecido um mendigo e a cidade que o cérca
no torpor de seu sono ele é absoluto
deus de seu próprio universo
porque distraído de sua própria carne

assim é Deus,
distraído de sua carne divina,
e mais material que a idéia
de sua própria existência
e que existe por isso mesmo menos
material
para além de sua carne imaterialmente existente

Ele é perfeito porque não está nele mesmo
e sequer está,
somente estando
ou
em algum lugar,
assim como
o mendigo entorpecido


* * * 

que há uma força maior, inexplicável,
assim Ele o sente.
tenta disfarçar sua existência
por detrás das Criações.

há algo de éco nessa presença,
juntamente, um rumor de cão atrás do próprio rabo


* * * 
sendo múltiplo foi fácil a Ele
ser apenas três dele.
uma vez três é mais
três para cada 
qual que nele crê,
e
de três em três
            Múltiplo
mais distante de saber
em qual de três Se está

* * * 

Deus é o apuro de visão até o ponto de não se ver
Deus é o espaço entre um pensamento e outro
aquilo que não tem nem ao menos uma partícula
aquilo que é o menos do que se reduz a nada
e ao mesmo tempo
tudo
e muito, e amplo, e absurdo
como um planeta que nunca
será visto por inteiro
mas eternamente cruzado
por naves incapazes
porém naves capazes
(as melhores que teremos)
dentro da pequeneza de visão que temos,
para as coisas que nunca poderemos
alcançar